Monday, August 02, 2010

Ninho das Águias

“Eles trouxeram um cabernet sauvignon”.

Foi a exclamação ciumenta de uma pessoa que via duas outras sentadas assistindo ao pôr-do-sol (ciumenta num sentido saudável). Até me senti um pouco único com aquilo. Mas se ela soubesse de tudo que havia acontecido nas últimas 48 horas que sucederam aquele momento, nem teria o que falar. Não há expressão para o ciúme que lhe atingiria, nem para a beleza de tudo que acontecia

O Ninho das Águias é um lugar majestoso. Na saída de Nova Petrópolis, subindo uma estradinha de terra. Parece que para aquelas bandas tudo é bonito. Não só a natureza. Mas coisas criadas pelo homem que ali se harmonizam.

Não tínhamos casacos que fossem suficientes para o frio que lá fazia. Tínhamos apenas o tapete do porta-malas do carro, no qual sentamos, meia garrafa de vinho, e um ao outro.

O final de semana por alguns momentos se confundiu com um sonho. E até agora ainda não tenho certeza de que não foi mesmo. Acordar em um sábado, ainda doído pelos percalços que a vida nos prega, e ter diante dos olhos uma reviravolta inesperada. Viver novamente. Ser eu mesmo. Ser louco. Ser aventureiro. Qualquer coisa. Ser contigo. Mas ser eu. Mais uma vez eu conseguia esquecer algumas coisas. Ou esquecer de tudo, e simplesmente viver.

-Vamos para onde? – Bah.. esse tempo é bom para ir para a serra.

Então fomos. E tudo foi como um sonho. Tudo perfeito. O melhor clima, a melhor janta, a melhor cabana, lareira, vinho, e principalmente, a melhor companhia. Será que estou enlouquecendo? Prefiro acreditar que era de verdade. O calor da pele. O contato. Tudo era de verdade. Tenho essa certeza. Mais ainda, mentes em constante sintonia.

Como pode ser tudo tão bom?

Ainda dentro de ti, um momento de contemplação. Não só corpos. Duas almas em contato. Vou ficar aqui mais um pouquinho para manter a sensação de que somos um só. Somos a mesma coisa. Somos iguais.

Um momento de meditação. Esquecer das coisas da vida. Simplesmente estar ali. Abraçado ao corpo à minha frente. Ligado a ela de uma forma única.

Mas tudo que é bom se acaba. Será? Cumprir-se-á o velho ditado?

Não podemos evitar algumas coisas nesse mundo, e o sol estava se indo embora. Seria o final de um sonho? Temos realmente que acordar?

Aquela lareira foi testemunha de muita felicidade. O céu arranhado pela roda gigante pôde ver apenas um pouquinho dos sorrisos, apenas um pouquinho da energia que é gerada por esse encontro de corpo e alma.

Mas ali, no Ninho das Águias, nada mais importa. Fica tão evidente que a vida existe para ser boa. Que nós vivemos para ser felizes. Apagar o que não é natural. Apagar o que não é bom. Apenas ser.

Lá estavam duas pessoas. Que já não eram mais duas. Pertenciam a algo maior que isso. Não havia pensar. Só um universo conspirando para que apenas coisas boas restassem nessa existência. O sol descia. O vinho ia se acabando. Já não se sentia frio. Eu não te sentia como um corpo ao qual eu estava abraçado. Não mais sentia a mim. Sentia que existia junto contigo.

Não sei o que levou o sol a se pôr. Não pertence à minha capacidade exegética, explicar porque o sol estava se indo, ou porque estávamos ali naquele exato momento. Só sei que queria estar. Ou nem queria, apenas estava. Estávamos.

O Sol se foi. – Não, não. Olha lá, ainda tem um pouquinho dele ali! – como se fosse um filme chegando ao final. Ou um sonho. Era como se o sonho estivesse chegando ao final, e teríamos que acordar.

Agora sim, ele se foi. Mas não precisamos acordar...



1 comment:

Anonymous said...

Cara... ouvi falar desse lugar.
Será que se eu for vai aconteceu uma história dessas comigo também??
Abraço
Grefo